Querido diário,
Hoje o dia não foi muito diferente dos outros. Acordei na mesma hora de sempre, sem vontade nenhuma de sair do quarto. Implorei pra minha mãe me deixar faltar na escola, mas não teve jeito. Eu teria que ir para a aula e lidar com todos aqueles problemas novamente.
Cheguei na escola e fui direto para o banheiro, tinha a impressão de que todos estavam rindo de mim, não consegui olhar para os lados, apenas continuei andando, segurando as lágrimas que ameaçavam cair. Entrei no banheiro e me olhei no espelho: não gostei do que vi. Uma garota alta, muito magra, com um rabo de cavalo, roupa e maquiagem preta, os olhos caídos, rosto pálido.
Bateu o sinal, fui para a sala. Sentei na minha cadeira perto da parede. O professor entrou com cara de bravo e me olhou fixamente nos olhos. Novamente ouvi risos, novamente tive vontade de chorar, novamente quis morrer. Aquele olhar dizia tudo: eu tinha ido mal, muito mal, na prova! Estava de recuperação, tinha certeza disso.
Lentamente as aulas foram passando, chegou o intervalo. Mal sai da sala e já começaram os risos e provocações. Decidi que passaria mais um recreio trancada no banheiro, isolada de tudo e de todos.
Depois de mais três aulas, fui para casa.
Entrei na cozinha e logo vi uma faca em cima da mesa, peguei-a e me tranquei no quarto. Não sabia exatamente o que iria fazer com aquilo, eu estava fora de mim. Fui lembando de tudo o que havia acontecido na escola, de todas as provocações, das minhas notas baixas, lembrei que eu sou feia. Aos poucos a faca foi se aproximando do meu pulso, minha mente estava agitada demais para pensar nas consequências. A primeira gota de sangue escorreu pelo meu braço e caiu no lençol da minha cama. Doeu? Sim! Mas foi como se aquela dor levasse todos os meus problemas embora. Olhei novamente para o meu lençol, agora todo vermelho. Ninguém poderia ver aquilo, escondi tudo em baixo da cama, fiz um curativo no meu braço e o escondi com a manga da blusa.
Eu não aguentava mais aquela vida, e estava determinada me cortar mais e mais vezes. Eu sabia que os cortes seriam cada vez mais fundos e mais fortes. Mas eu queria aquilo. Eu queria... morrer. Pois essa seria a única forma de me livrar de todos os meus problemas...''
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29/09/2013